Após o anúncio do retorno do manto, feito pelo Museu Nacional, o Conselho Indígena Tupinambá de Olivença (CITO) criticou a ausência dos Tupinambás em sua recepção.
Não adianta trazer para o Brasil e isso ficar num lugar que a gente não tem acesso, que não tem políticas, onde não vai ser discutido nada. Não é somente trazer de volta, e sim questionar como essas instituições podem organizar uma forma de reparação histórica para essas comunidades, para as populações indígenas do Brasil.
“O manto retornou para nós, mas ainda não foi recepcionado pelo nosso povo de acordo com nossas tradições. Este manto de mais de trezentos anos é um ancião sagrado que carrega consigo a história e a cultura de nosso povo”, afirmaram, em nota.
O Conselho Indígena Tupinambá de Olivença (CITO), formado por caciques, lideranças, anciões, mulheres, crianças do povo Tupinambá de Olivença e seus representantes, vem através deste se pronunciar oficialmente sobre o retorno do Manto Tupinambá, que fazia parte da coleção etnográfica do Nacionalmuseet, o museu nacional da Dinamarca, e agora será alojado no acervo do Museu Nacional do Rio de Janeiro.
Este Manto Sagrado é um ancião para nosso povo, aguardado ansiosamente com muita alegria e emoção. No dia 8 de maio de 2024, durante um último encontro presencial, no qual estavam presentes a primeira cacique do povo Tupinambá de Olivença, Jamopoty Tupinambá (Maria Valdelice Amaral de Jesus), junto com as testemunhas Jennyffer Bransfor e Taquari Pataxó, além de membros do museu, foi estabelecido que haveria uma recepção coordenada pelo povo Tupinambá ao manto, como nossos anciões orientavam, para o bem espiritual do nosso povo e do próprio manto.
Além disso, foi dito que nenhuma decisão sobre este patrimônio material e imaterial do povo Tupinambá seria tomada sem nossa consulta.
Fomos profundamente surpreendidos quando Jamopoty foi informada, através de uma ligação via WhatsApp em 8 de julho de 2024, que o manto havia retornado e que já estava no Museu Nacional do Rio de Janeiro, e que seria inviável organizar uma recepção antes da abertura ao público. O manto retornou para nós, mas ainda não foi recepcionado pelo nosso povo de acordo com nossas tradições.
Este manto de mais de trezentos anos é um ancião sagrado que carrega consigo a história e a cultura de nosso povo, como foi transmitido para nós por Amotara, nossa anciã.
Reiteramos firmemente que nossa relação com o manto deve ser respeitada. Solicitamos que o Museu Nacional do Rio de Janeiro retifique imediatamente sua postura, de acordo com o protocolo que será elaborado pelo Cito, em conformidade com o povo Tupinambá. É essencial que todas as decisões futuras sobre o manto e a cerimônia de abertura respeitem os acordos estabelecidos e reconheçam a importância cultural deste sagrado para nosso povo.